venerdì 20 agosto 2010

A linguagem ítalo-brasileira

O centenário de Adoniran Barbosa reacende o debate sobre a influência italiana na fala brasileira
Guilherme Bryan
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O sotaque e a cultura italiana nunca estiveram tão presentes no imaginário popular quanto este ano em que se comemora o centenário de João Rubinato, mais conhecido como Adoniran Barbosa.
Cantor, compositor, humorista e ator, Adoniran imortalizou em suas canções o linguajar típico dos italianos que viviam na capital paulista na primeira metade do século 20.
Além de sua música, a televisão também contribuiu para fixar esse jeito de falar, caso da novela Passione, da Rede Globo, que atualiza a tradição do sotaque italiano televisivo, com direito a palavras como "amore" e "tesoro" e cenas gravadas na Itália.
Tudo pela verossimilhança de um falar que já perte
nce à herança cultural brasileira.
Mesmo tanto tempo depois, a linguagem espontânea de Adoniran ainda se faz sentir, sobretudo em bairros tradicionais paulistanos como Bexiga, Brás e Barra Funda, além da própria Mooca, cujo sotaque característico está em vias de ser tombado como patrimônio cultural.
Adoniran Barbosa nasceu no dia 6 de agosto de 1910 em Valinhos, interior de São Paulo. Suas canções tinham o caráter de crônicas, ora bem-humoradas, ora trágicas, sobre um povo que veio trabalhar principalmente na construção
civil da metrópole.
- Ele reproduzia o linguajar mais típico, direto e espontâneo do povo, preocupando-se mais com a fluência e expressividade do que com detalhes e "fricotes" gramaticais ou purismos. Era coisa profissional, comercial, mas no melhor sentido, com base na "cutura" autêntica do povo - garante Ayrton Mugnaini Jr, autor do livro Adoniran: Dá Licença de Contar...

Vocabulário

Entre as expressões imortalizadas pelo compositor, estão "tiro ao álvaro", "adifício", "homes", "cobertô", "truxe", "táuba", "frechada", "ponhado", "revórver", "lâmpida" e os versos de Samba do Arnesto: "O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás / Nóis fumo e não encontremo ninguém / Nóis vortemo cuma baita duma reiva / Da outra veiz nóis num vai mais".
Boa parte da memória e itens pessoais de Adoniran Barbosa, como cachecol, isqueiro, gravata e chapéu, encontram-se preservados no Museu do Bixiga, tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (Conpresp).
Também está no museu o primeiro registro do bairro, que data de 1559 e faz referência ao Sítio do Capão, do português Antônio Pinto. O nome atual surgiu apenas na década de 1820, quando a fazenda tornou-se propriedade de Antônio Bexiga, que ganhou esse apelido em função de ter cicatrizes de varíola, doe
nça popularmente conhecida como "bexiga".
De acordo com Paola Giustina Baccin, professora da Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo (USP), os italianismos foram introduzidos no Brasil por meio de duas grandes correntes migratórias. A primeira ocorreu no final do século 19 e início do 20, com italianos vindos principalmente das regiões da Itália setentrional para o Sul e Sudeste do Brasil a fim de trabalhar na lavoura. A segunda foi após a Segunda Guerra Mundial, com imigrantes vindos da Itália setentrional novame
nte para a Grande São Paulo, onde foram trabalhar na indústria.
- Os imigrantes trouxeram a cultura italiana no modo de se vestir, na religiosidade, na língua e nos dialetos com os quais se comunicavam. Os italianismos provenientes desse contato entraram para a nossa língua principalmente por intermédio da forma oral, de pais para filhos, entre vizinhos, de empregado para patrão, etc., e, como estão há muito tempo no léxico, adaptaram-se ou desapareceram. Algumas das unidades lexicais, no entanto, ainda são sentidas como italianismos,
apesar da total adaptação fonética, caso de "espaguete", "nhoque" e "lasanha" - avalia Baccin.
O resultado de todo esse processo é que, segundo Baccin, muitos italianismos acabaram dicionarizados, caso de "adaggio", "allegro" e "andante", no campo musical; "arlequim", "colombina" e "vedeta", no teatro; "afresco", "aquarela" e "caricatura", nas artes plásticas; e "amainar", "escolta" e "piloto", na navegação.
Outras palavras que têm a mesma orig
em são "bandido", "canhão", "baderna", "gelatina", "ágio" e "capricho".
Assim como esses vocábulos, tão bem adaptados ao português que nem parecem ter vindo de outro idioma, os ítalo-brasileiros também já fazem parte da paisagem multicultural brasileira.
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Publicado em A Revista Língua Portuguesa (Edição nº 58-Agosto/2010)
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Teatro Municipal de São Paulo

2 commenti:

Dona Sra. Urtigão ha detto...

Sempre boas informações...

Domenico Condito ha detto...

Olá Dona

Obrigado pela visita "brasileira", que muito aprecei!
Um abraço do tamanho do mundo.

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